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“Os projetos paralelos e os passatempos são importantes”.

Este é um dos principais conselhos de Austin Kleon, autor do famoso livro “A arte do Gamanço” (ou “Steal like na Artist” na versão original).

Baseado na sua própria experiência, e nos conselhos que gostaria de ter recebido no seu percurso enquanto artista, Austin Kleon compilou num pequeno livro 10 ideias que considera fundamentais para qualquer pessoa que queira trazer alguma criatividade à sua vida e ao seu trabalho.

Uma delas é precisamente sobre a importância de dedicar algum tempo aos projetos paralelos:

“Por projetos paralelos, refiro-me ao que pensava que era só uma distração. As brincadeiras. Esse é o material realmente bom.
É aí que a magia acontece.”

Austin Kleon

Quando andamos demasiado embrenhados nas rotinas do dia-a-dia, pode ser difícil encontrar espaço para pensar naquele passatempo que tanto gostávamos e que a certa altura deixámos de ter na nossa vida.

O curioso é que, a pandemia da Covid-19, abriu espaço precisamente para repensarmos aquilo que queremos ter na nossa vida. Para repensar a forma como queremos viver, aquilo a que queremos prestar mais atenção, o ambiente em que queremos crescer.

Existe mesmo um boom de pessoas a querer mudar de vida?

Esta ideia algo abstrata de que tem havido um boom de pessoas a querer mudar de vida durante o último ano, não é tão abstrata assim:

  • O número de procura, e efetiva compra, de terrenos no interior disparou no último ano, mostrando que estamos à beira de assistir a um autêntico êxodo urbano;
  • Um relatório elaborado pelo Pedro Caramez, especialista do LinkedIn, com base nos indicadores estatísticos dessa rede, mostra que, só no 3º trimestre de 2021, 35 mil profissionais mudaram de emprego;
  • De acordo com um artigo publicado na revista Visão, o setor da hotelaria e da restauração, um dos mais afetados pela crise pandémica, perdeu imensa mão de obra e “a grande maioria não vai voltar”.

Apesar de não existir ainda esta análise em Portugal, nos EUA já se atribuiu um nome para este movimento global: “The Great Resignation”.

O termo foi inventado por Anthony Klotz, professor na Texas A&M University, que estudou as demissões de centenas de trabalhadores e chegou à conclusão que essas saídas explicam-se porque, por um lado, as empresas não estão a conseguir satisfazer as necessidades das pessoas, por outro lado, algumas são demissões reprimidas que não aconteceram antes por se viver um grande período de incerteza.

Então o que está a levar as pessoas concretamente a querer mudar de vida?

De acordo com um artigo do Observador, baseado no estudo feito pelo professor Anthony Klotz:

  • Ter estado em trabalho remoto permitiu às pessoas ver o tempo que perdem em deslocações de e para o trabalho, quando conseguem assegurar o mesmo no conforto das suas casas;
  • Além disso, revelou também a necessidade, que muitos certamente já sentiriam, de equilibrar a vida profissional com a vida pessoal e familiar;
  • Esta tomada de consciência da necessidade de uma vida mais equilibrada terá levado também “muitos trabalhadores a questionar os seus objetivos e prioridades de vida, o sentido e o propósito do trabalho que desempenham, a repensar como estão a ocupar o seu tempo e a equacionar novos contextos familiares e profissionais.

E, a meu ver, é aqui que entra a importância dos projetos pessoais, quer sejam desenvolvidos em paralelo com a atividade profissional, ou resultado de uma mudança de vida.

Para quê perder tempo a criar um projeto pessoal?

A vontade de ter um projeto pessoal surge com alguma necessidade que se manifesta em nós de obter mais satisfação e/ou motivação na nossa vida.

Pode até ser a necessidade de encontrar uma forma para manifestar o nosso propósito ou vivenciar uma grande paixão, algo que não conseguimos alcançar através do trabalho.

Já uma vez partilhei que uma das estratégias para conseguir suportar a insatisfação que sentia a nível profissional, foi procurar atividades paralelas que me trouxessem alguma distração, gozo e realização.

Este projeto – Tira da Gaveta – começou por ser isso mesmo: um blogue onde queria escrever, algo que sempre gostei muito.

É certo que no fundo, no fundo, queria perceber se tinha talento para que as minhas palavras pudessem originar uma mudança de carreira, mas à partida apenas queria ter um espaço para partilhar pensamentos, histórias, conhecimento… nunca esteve nos meus planos construir um projeto alicerçado em ter sessões de mentoria, por exemplo.

De projeto paralelo, que me preenchia o vazio que estava a sentir profissionalmente, tem evoluído passo a passo para um projeto pessoal que se revela numa possível mudança de vida.

Sim, porque nem todos temos possibilidade para mudar de vida de um dia para o outro, ir morar para o campo, e construir uma nova vida no interior.

A pandemia criou as condições para ter mais tempo para me dedicar a estruturar todo o processo. Não só tempo físico, mas também disponibilidade mental.

E acredito que foi isso que também despertou em tantas outras pessoas o desejo de quererem criar um projeto pessoal que lhes permita viver essas outras dimensões, outros talentos, que estão adormecidos nas suas vivências profissionais.

No fundo foi a oportunidade para criarem algo que desse mais sentido e propósito às suas vidas. Algo além do trabalho que desempenham.

Claro que nem todos os projetos têm que ter como objetivo uma mudança de carreira, ou uma mudança de vida. Nem tão pouco precisam de estar relacionados com um motivo profissional.

Dedicar tempo a um passatempo; planear as nossas finanças e logística familiar para conseguir mudar de casa; dedicar tempo a recuperar uma casa de férias; fazer voluntariado; planear uma grande viagem; fazer um curso numa área completamente diferente; ter uma segunda atividade remunerada que nos dá gozo;… tudo isto são exemplos de projetos paralelos que podem coexistir com um trabalho a tempo inteiro.

Agora, é óbvio que implica ter alguma flexibilidade para encaixar todas as peças na nossa rotina, por vezes a parte mais difícil de conseguir efetivamente levar a cabo um projeto.

Por muito gozo que nos dê estar envolvidos em atividades que nos dão prazer e nos fazem entrar naquele sentimento de flow, a verdade é que temos de arranjar tempo para fazer essas atividades.

Temos de nos dedicar se quisermos que o projeto dê frutos.

Lá diz o velho ditado: é preciso semear, para depois colher.

E por isso, talvez seja importante considerares algumas dicas se estás a pensar tirar da gaveta o tal projeto que te pode iluminar o dia e resgatar essa velha paixão que nunca te largou.

Encontra soluções, não desculpas

Arranja tempo

Todos temos o mesmo dia com 24 horas. Todos temos os mesmos 7 dias por semana.

Faz um calendário e preenche todas as atividades que ocupam o teu tempo.

Inclui a preparação de refeições, pausas, deslocações, tempo com a família.

Depois vê os espaços em branco: onde poderias roubar 30 minutos ou 1 hora para fazeres algo que realmente te apaixona?

Terias de ajustar alguma rotina? Há alguma coisa que possas deixar de fazer porque nem faz assim tanto sentido?

Arranja tempo para fazeres aquilo que te faz sentir bem.

(Aproveita para ler o artigo “5 passos para ganhares tempo para os teus projetos“)

Confia em ti

A autossabotagem é uma das grandes armadilhas na criação de projetos, por isso, é importante que, ao começares algo, tenhas plena consciência do impacto que vai ter em ti.

É importante saberes porque motivo esse projeto é tão importante na tua vida.

Faz-te sentir bem? Faz-te estar mais perto de pessoas com interesses comuns? Vai permitir-te fazer uma mudança de vida? É uma oportunidade para expressares a tua criatividade?

Descobre o “porquê” de criares o teu projeto para conseguires dar resposta àquela vozinha interior que é certo que te vai atormentar algures no tempo com dúvidas: “para que é que estou a fazer isto, se não sou nada de especial?”, “eu não valho nada, quem vai querer conhecer-me?”, “nunca vou conseguir viver disto”,…

Confia na tua intuição e vai em frente.

Feito é melhor que perfeito

O perfecionismo é outro sabotador com que podes contar seguramente.

Querer mostrar ao mundo só quando estiver perfeito. Querer avançar só quando tiveres todas as respostas. Querer avançar com C, só depois de A e B completos.

A vida real não acontece assim. Os imprevistos surgem. As ideias precisam de ser ajustadas.

É preciso fazer para testar conceitos, para ver como funciona na realidade, para ter feedback de outros e para perceber se é mesmo aquilo que queremos.

Fazer-errar-aprender-testar outra vez.

Faz parte.

Não queiras ter tudo perfeito para, no momento em que decides avançar, perceber que afinal não resulta dessa forma. Vai fazendo pequenos testes e ajustando à medida que vais avançando.

Avança mesmo com medo

O medo pode estar presente de várias formas.

Medo que não dê certo, que seja uma ilusão, medo do sucesso, medo de te expores, medo do julgamento, medo da rejeição, medo da falta de dinheiro, … poderia continuar por aqui fora, mas já deves ter percebido.

O medo é um autêntico monstro que te pode paralisar e fazer desistir do teu projeto, mesmo antes de teres começado.

Seguramente vai aparecer assim que saíres da tua zona de conforto e começares a ir para uma zona de desafio em que vais entrar num espaço desconhecido e de aprendizagem.

Então, podes olhar para esse medo e vê-lo como uma bússola: quando bem direcionado, o medo consegue apontar-te o caminho certo, apenas tens de confiar na tua intuição (vê este vídeo da Marie Forleo em que ela fala sobre o poder de seguires o medo bem direcionado).

Como diz Steven Pressfield, no livro “A Guerra da Arte”:

“Quanto mais medo tivermos de um trabalho ou missão, mais certeza podemos ter de que devemos fazê-lo.”

Steven Pressfield

Tudo isto para te dizer que: vais encontrar ao longo do caminho todo o tipo de desculpas para evitar dar o passo seguinte e também todo o tipo de razões para duvidar de ti mesmo.

Teres consciência disto já é meio caminho para conseguires concretizar o teu projeto.

Não desistas antes de tentares!

Seguimos juntos.

Créditos da imagem:  Foto de RF._.studio no Pexels

Nota: Este artigo contém links para afiliados.

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