Antes de mais, dizer-te que, se nunca ouviste falar neste livro, nem no autor, deves assistir à TED Talk sobre liderança mais vista de sempre, onde Simon Sinek fala sobre como os grandes líderes nos inspiram a fazer sempre melhor.
Simon Sinek conceptualizou a teoria do Círculo Dourado depois de um período menos positivo na sua vida em que se sentiu um fracasso, durante o qual começou a investigar a razão pela qual o marketing (a sua área de atuação) funcionava apenas em 50% das vezes.
Associou o conceito do Círculo Dourado à biologia do cérebro e do comportamento humano e descobriu a razão pela qual as pessoas fazem o que fazem:
- As pessoas têm de ter um PORQUÊ para as mover. Um propósito, uma crença, uma causa.
- Só depois das pessoas terem esse PORQUÊ bem claro, conseguem definir as ações que se desenvolvem para concretizar essa crença: o COMO.
- O resultado dessas ações será O QUE as pessoas fazem.
O PORQUÊ implica clareza.
O COMO implica disciplina.
O QUÊ implica consistência.
PORQUÊ-COMO-O QUÊ existem nesta ordem específica e precisam de existir em conjunto para o Círculo se manter em equilíbrio.
Lição 1: o PORQUÊ é sinónimo de PROPÓSITO
Tão simples e tão complexo quanto isto.
É frequente ouvir alguém dizer que tens de saber qual é o teu propósito para te sentires realizado e encontrares o teu caminho.
Aquilo que te inspira, que te faz sair da cama de manhã, que te apaixona, que te ajuda a atravessar os obstáculos.
O PORQUÊ de que Simon Sinek fala é exatamente a mesma coisa, mas adaptado à Liderança e ao mundo dos negócios.
No fundo, um verdadeiro Líder é aquele que sabe o que o move, que tem uma crença, uma causa tão forte e tão profunda que atrai pessoas que acreditam no mesmo. Pessoas que serão os seus seguidores, leais e portadores da sua mensagem. Pessoas que vão construir toda a estrutura necessária para concretizar a visão do seu Líder e pessoas que vão realizar tarefas e ações no sentido de tornar palpável aquela missão.
O abstrato transforma-se em concreto.
Encontrar o nosso PORQUÊ, ou o nosso PROPÓSITO não é fácil.
A não ser que sejas uma daquelas pessoas que realmente já tem esta clareza em si.
Menciono alguns dos exemplos que são dados no livro:
- Steve Jobs: Desafiar o status quo | Pensar diferente
- Bill Gates: Dar poder ao cidadão comum | Ajudar as pessoas a serem mais produtivas de modo a atingirem o seu potencial máximo
- Howard Schultz, Starbucks: Proporcionar uma experiência clientes | Criar um espaço agradável, a meio caminho do trabalho para casa
- Simon Sinek: Motivar as pessoas a fazer aquilo que as inspira
Lição 2: a anatomia do Círculo Dourado
Esta associação entre o Círculo Dourado proposto pelo Simon Sinek e a estrutura do nosso cérebro faz todo o sentido.
E para quem gosta de ter uma base científica para tudo, aqui fica a explicação para os nossos instintos!
O nosso cérebro límbico (…) é poderoso o suficiente para conduzir um comportamento que às vezes contradiz a nossa compreensão racional e analítica de uma situação.
O instinto, apesar de parecer algo muito abstrato, tem na realidade uma base biológica.
As decisões intuitivas acontecem no cérebro límbico.
Uma parte do nosso cérebro responsável pelos sentimentos, pelos comportamentos humanos e pela tomada de decisões, mas que não tem capacidade para formular linguagem. Isto acontece noutra parte do cérebro, o neocórtex, responsável pelo pensamento racional e analítico, e pela linguagem.
Daí que, por vezes, sentimos que é a decisão certa, apesar de ir contra todos os factos racionais.
Simon traduz esta relação entre razão e instinto na tomada de decisões, nos 3 graus de certeza:
A capacidade de colocar um PORQUÊ em palavras fornece o contexto emocional para as decisões.
Lição 3: Paixão vs Estrutura ou Porquê vs Como
A criação de uma empresa parte muitas vezes de uma paixão.
Mas a paixão, por si só, é insuficiente.
Uma paixão sem estrutura – um PORQUÊ sem COMO – tem uma elevada probabilidade de fracasso.
No entanto, para fazer crescer a empresa, a estrutura precisa de paixão.
Ambas devem coexistir para evitar o fracasso.
Ainda que muitos dos empreendedores se vejam como visionários, apaixonados pelas suas ideias, na realidade, os mais bem-sucedidos são do tipo COMO.
Eles sabem como fazer as coisas, adoram construir processos e sistemas.
É por isso necessário uma parceria especial com alguém que saiba PORQUÊ, para que possam juntos construir um negócio que mude o rumo da indústria.
Lição 4: o Círculo adaptado às Organizações
O Círculo Dourado adaptado às organizações resulta nesta representação:
O líder idealiza o ponto de destino e aqueles que são do tipo COMO encontram o caminho para lá chegar.
Um líder não chega a nenhum sítio sozinho, precisa de seguidores, de pessoas leais que acreditem na sua crença e que façam acontecer.
Se desde o início for criada uma forte cultura organizacional, percecionada e praticada por todos os indivíduos, então existirá alinhamento com o propósito da organização e o conjunto de pessoas que dela fazem parte, transforma-se numa tribo.
A cultura permite integrar a visão do Líder, a missão de quem estrutura e o sentimento de pertença daqueles que fazem acontecer. É muito mais do que um conjunto de regras e princípios. É a identidade da empresa e é o que faz com que as pessoas gostem de trabalhar naquela organização.
Se o PORQUÊ não estiver bem enraizado na cultura organizacional, existe um forte risco de se perder ao longo do tempo e de conduzir a uma mudança dramática na identidade da empresa.
Para que uma organização continue a inspirar e a liderar para lá do tempo de vida do seu fundador, é necessário extrair o porquê do fundador e integrá-lo na cultura da empresa.
Lição 5: um mundo que não começa pelo Porquê
Este é um dos capítulos do livro que me levou a fazer uma reflexão sobre um caso português que, a meu ver, tinha tudo para dar certo, mas infelizmente, fracassou.
Estou a falar d’ A Vida é Bela.
A Vida é Bela foi a primeira empresa de marketing de experiências em Portugal e veio revolucionar este mercado.
O seu fundador, António Quina, era movido por decisões instintivas e muito pouco estruturadas. António tinha muitas ideias e, perante uma situação de desemprego, quis utilizar o seu know-how para reinventar o conceito dos programas de fidelização de clientes.
O conceito era novo. Foi bem recebido pelo mercado. As pessoas podiam comprar e oferecer experiências, em vez dos habituais presentes materiais.
António juntou algumas pessoas de confiança para poderem criar os processos e a estrutura necessária para o negócio funcionar.
O mercado estava tão disponível a este novo tipo de oferta que António quis aproveitar todas as oportunidades para fazer crescer o seu negócio.
Em pouco mais de um ano, a empresa mudou de uma minúscula casa residencial com um sótão, para dois pisos num prédio situado numa das zonas mais atrativas de Lisboa; a equipa passou de 6 pessoas para cerca de 100; o produto original começou a ser esquecido e substituído por outro que era mais rentável e fácil de vender nas cadeias de distribuição.
A certa altura, a empresa colapsou.
O crescimento da empresa foi demasiado grande e demasiado rápido. A estrutura da empresa não conseguiu acompanhar este ritmo. Não houve pausas para refletir. Nem tão pouco, se formos a ver bem, existia um PORQUÊ que valesse a pena salvar.
Esta é uma empresa que me diz muito pelo conceito emocional que trouxe à indústria. Tinha tudo para ser revolucionária e singrar no mercado das experiências. Mas uma má gestão e a falta de um Líder deitou tudo a perder, deixando dezenas de pessoas no desemprego.
Se estás a construir um projeto ou a considerar tirar da gaveta algumas ideias, não te esqueças de ter resposta para estas 3 perguntas e de manter sempre bem presente o teu “Porquê”!
Seguimos juntos!
Nota da autora: este artigo foi inicialmente publicado no Linkedin.
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