Mudar de vida aos 40? Sim, é possível!

Mudar de vida aos 40 é uma das preocupações que mais ouço nas pessoas com quem vou conversando. Até nos meus clientes de mentoria.

A idade desde sempre foi um entrave (mais imaginado do que real), para as pessoas poderem agir e fazerem as mudanças que necessitam.

Questionam se ainda estão a tempo, se as empresas ainda as vão aceitar, se ainda valem algo para o mercado de trabalho, se ainda têm aquilo que é preciso…

Com este loop de pensamentos de dúvida e insegurança, esquecem-se de fazer aquilo que realmente importa: tomar as rédeas da sua vida, planear, preparar e agir.

Neste artigo vais encontrar factos sobre a realidade atual do mercado de trabalho,  exemplos de pessoas que mudaram de vida aos 40 e ainda 5 passos práticos para iniciares a mudança.

Vamos a isto?

Mudar de vida aos 40: oportunidades no mercado de trabalho atual

Existe um movimento em curso para valorizar o conhecimento e a experiência dos trabalhadores mais velhos, bem como para integrar jovens talentos e promover a troca de saberes entre diferentes gerações.

Diversidade Etária: as empresas estão a valorizar os profissionais mais experientes

A diversidade etária tem-se tornado uma vantagem competitiva para as empresas. Ao contrário do que muitos pensam, ter 40 anos (ou mais) no mercado de trabalho atual pode ser um trunfo e não um obstáculo.

As organizações começam a perceber que equipas diversas em termos de idade trazem diferentes perspetivas, conhecimentos e abordagens que promovem a inovação e melhoram a tomada de decisão.

As empresas inovadoras estão mais preocupadas em garantir o talento do que propriamente em saber qual a idade dos colaboradores. 

Rui Rocheta, Regional Head a Gi Group Holding em entrevista ao eco

Estudos recentes mostram que equipas intergeracionais têm melhor desempenho em resolução de problemas complexos, precisamente porque combinam a experiência e sabedoria dos mais velhos com a familiaridade tecnológica e novas perspetivas dos mais jovens.

Tendências do Mercado: do salário ao propósito

A relação com o trabalho mudou significativamente. Hoje, tanto empresas como profissionais procuram mais do que apenas um salário – procuram propósito, significado e crescimento mútuo. As organizações estão mais disponíveis para escutar o que os candidatos procuram, independentemente da idade, para garantir que contratam pessoas que queiram crescer com elas.

Ao contratar pessoas mais velhas, as empresas juntam, assim, profissionais com capacidades, competências, conhecimentos e redes de contactos diferentes. O resultado da diversidade etária nas empresas é, portanto, a criação de equipas com profissionais que se complementam.

Rui Rocheta, Regional Head a Gi Group Holding em entrevista ao eco

Esta mudança de paradigma abre portas para quem tem mais de 40 anos e deseja mudar de vida: as empresas valorizam cada vez mais a experiência, as soft skills e a capacidade de adaptação, características frequentemente mais desenvolvidas em profissionais com maior maturidade.

Career Breaks e Licenças Sabáticas: como aproveitar esta tendência

Outra tendência positiva para quem considera mudar de vida aos 40 é a crescente aceitação de períodos de pausa na carreira. Se há alguns anos um “gap” no currículo era visto com desconfiança, hoje muitas empresas reconhecem o valor de profissionais que tiram tempo para se desenvolver, explorar novos caminhos ou simplesmente recarregar energias.

Licenças sabáticas, career breaks e períodos dedicados a formação ou projetos pessoais são cada vez mais comuns e valorizados. Empresas como a Deloitte, Adobe e Microsoft têm políticas específicas para licenças sabáticas, reconhecendo que estas pausas podem resultar em profissionais mais criativos, motivados e produtivos.

Se estás a considerar uma mudança de vida aos 40, esta abertura é uma excelente notícia: podes negociar uma licença sabática para explorar novos caminhos sem necessariamente cortar laços com o teu emprego atual, criando uma transição mais suave e segura.

Reinvenção Profissional aos 40: histórias de sucesso e inspiração

Embora mudar de carreira seja um enorme desafio, muitas pessoas sentem que precisam mesmo de começar do zero: seguir um sonho antigo ou dedicar-se a algo completamente novo.

Assim, surgem cada vez mais pessoas interessadas em trabalhar por conta própria, criar o seu próprio negócio ou até mesmo criar um estilo de vida com mais liberdade de tempo e geográfica. Com cada vez mais modelos de trabalho diferentes do tradicional, as escolhas são muitas.

Parece difícil? Aqui ficam alguns exemplos inspiradores de pessoas que mudaram de vida perto dos 40 e reinventaram as suas vidas.

João Delicado: da arquitetura à psicoterapia

O João Delicado não é um novato em mudanças de vida: «Na 1ª mudança deixei o mundo da Arquitetura. Na 2ª mudança estava quase a concluir a formação para ser padre e decidi não continuar. Na 3ª mudança deixei de ser professor num colégio para passar a trabalhar como ‘life coach’. Desde aí tenho sempre trabalhado por conta própria, agora como psicoterapeuta.»

Tinha 37 anos quando decidiu deixar o colégio, mesmo sem um plano definido. E foi só depois de mais de 5 anos de estudos em psicoterapia, que fez uma transição mais suave entre o ‘life coach’ e o psicoterapeuta.

Pelo caminho houve muitas incertezas, dúvidas e escolhas erradas. Mas o João sabia o que realmente era importante para se sentir realizado:

Sabia que queria sentir-me vivo e o mais em casa possível onde quer que desempenhasse a minha atividade profissional.

Lê aqui a história do João Delicado

Andreia Carvalho: da economia à comunicação e parentalidade consciente

Formada em economia, a Andreia passou quase 20 anos a trabalhar em auditoria e na entidade de supervisão de mercados e auditores, mas sentia que estava a faltar algo: «Há muito tempo que sentia que havia um desalinhamento entre a minha essência, os meus interesses, as minhas forças pessoais e a área e funções em que trabalhava.»

Foi após fazer um curso de parentalidade consciente que começou a descobrir um novo caminho profissional, inspirando-se nas pessoas que conheceu e que já tinham dado o salto para trabalhar por conta própria.

Aos 39 anos decidiu dar o salto e deixar o mundo corporativo.

Encontrem o vosso IKIGAI, tenham um propósito forte e mantenham-se em alinhamento com o vosso propósito e valores. Tirem tempo para o autoconhecimento, pois só quando estamos profundamente ligados à nossa essência e à nossa motivação interna conseguimos ter vidas verdadeiramente significativas.

Lê aqui a história da Andreia Carvalho

Desafios e Soluções: como fazer uma transição de carreira com +40

Antes de avançarmos para os passos práticos, vamos abordar alguns desafios específicos que as pessoas aos 40 enfrentam quando decidem mudar de vida – e como podes superá-los.

Expetativas para a Mudança de Carreira: quanto tempo realmente leva

Uma das maiores armadilhas numa mudança de vida aos 40 é a expetativa de resultados rápidos. A realidade é que uma transição bem-sucedida leva geralmente entre 1 a 2 anos – e isso é perfeitamente normal.

Este período inclui:

• 3 a 6 meses para exploração e autoconhecimento
• 6 a 9 meses para aquisição de novas competências ou formação
• 3 a 6 meses para a procura ativa e transição efetiva

Muitas pessoas desistem prematuramente por acreditarem que a mudança deveria acontecer em poucos meses. Precisas de dar tempo ao processo e celebrar as pequenas vitórias ao longo do caminho.

Lembra-te: quem muda de vida aos 40 ainda tem cerca de 25 anos de carreira pela frente. Investir 1 a 2 anos para os próximos 25 serem mais satisfatórios é um excelente retorno do investimento!

Competências Transferíveis: como identificar e valorizar a tua experiência

Uma das maiores vantagens de mudar de vida aos 40 é o vasto conjunto de competências que já adquiriste – muitas das quais são transferíveis para novos contextos.

O truque está em identificar e comunicar estas competências eficazmente:

1. Faz um inventário abrangente: Lista todas as competências que desenvolveste, tanto técnicas como interpessoais. Não subestimes capacidades como gestão de conflitos, liderança, orçamentação ou gestão de projetos;
2. Traduz para a nova linguagem: Cada setor tem o seu jargão. Pesquisa como as competências que já tens são denominadas na indústria que pretendes entrar;
3. Conta a história certa: Em vez de dizer “não tenho experiência em X”, reformula para “as minhas competências em Y e Z permitem-me adaptar-me rapidamente a X”.

Por exemplo, uma professora que quer transitar para gestão de projetos pode destacar a sua experiência em planear currículos (gestão de âmbito), cumprir prazos académicos (gestão de tempo), gerir o orçamento da sala de aula (gestão de recursos) e coordenar com outros professores e pais (gestão de stakeholders).

Estas conexões podem não ser óbvias para recrutadores – cabe-te a ti torná-las visíveis.

Superar o Idadismo: estratégias para o mercado de trabalho atual

Embora o panorama esteja a melhorar, o idadismo (discriminação com base na idade) ainda existe em alguns setores. Aqui estão estratégias práticas para o contornar:

1. Mantém-te tecnologicamente atualizado: Demonstra proficiência com ferramentas digitais relevantes para desmentir o estereótipo de que profissionais mais velhos não são tech-savvy;
2. Destaca a tua energia e adaptabilidade: Em entrevistas e no CV, enfatiza exemplos concretos de como te adaptaste a mudanças no passado;
3. Networking estratégico: Muitas vezes, as conexões pessoais podem ultrapassar barreiras de preconceito. Investe em construir relações na nova indústria;
4. Reformula o teu CV: Foca-te nos últimos 10 anos de experiência e destaca competências relevantes em vez de uma cronologia completa;
5. Considera organizações conhecidas pela diversidade etária: Pesquisa empresas que valorizam explicitamente a experiência e têm histórico de contratar profissionais mais velhos.

Lembra-te que o idadismo, embora real, não é universal. Muitas organizações reconhecem o valor que profissionais experientes trazem para a mesa.

Se considerarmos que estas pessoas têm um esperança de vida cada vez maior e que a idade da reforma no nosso país é aos 66 anos, estamos a falar de pessoas que têm 20 anos à sua frente com dificuldade de regressarem ao mercado de trabalho.

Vera Norte, Assessora da administração da dNovo

Mudar de Vida aos 40: como envolver os teus entes queridos

Uma mudança de carreira aos 40 raramente afeta apenas a própria pessoa – tem implicações para todo o núcleo familiar. Abordar este aspeto com cuidado é crucial:

1. Comunicação aberta e antecipada: Inicia conversas com o/a parceiro/a e filhos (se aplicável) sobre as tuas intenções muito antes de tomar decisões definitivas;
2. Envolve-os no planeamento: Considera as suas preocupações e sugestões no teu plano de transição;
3. Prepara-os para mudanças temporárias: Explica que poderá haver um período de ajuste financeiro, de disponibilidade ou mesmo de humor durante a transição;
4. Negocia apoios específicos: Em vez de pedir apoio genérico, solicita ajudas concretas: “Nas próximas seis quartas-feiras, precisarei de estudar para o curso. Podes encarregar-te do jantar nesses dias?”
5. Celebra em conjunto: Envolve a família nas pequenas vitórias ao longo do percurso, tornando-a parte ativa do teu sucesso.

Lembra-te que a tua mudança pode ser também uma oportunidade educativa valiosa para os teus filhos sobre coragem, aprendizagem contínua e autenticidade.

Como a Andreia Carvalho partilha na entrevista: «Organizamo-nos financeiramente em família (o apoio do meu marido foi e continua a ser muito importante) e percebi que com 3 filhos e com uma forma de viver a parentalidade com muita presença e disponibilidade emocional não iria conseguir desenhar e investir numa nova “profissão” sem sair da “roda do hamster”.»

Saúde Mental na Transição: cuidados essenciais

Mudar de vida aos 40 pode ser emocionalmente desafiante. A incerteza, a vulnerabilidade de ser novamente iniciante e o medo do fracasso são sentimentos naturais que merecem atenção:

1. Reconhece a montanha-russa emocional: É normal alternar entre entusiasmo e dúvida, confiança e insegurança. Aceita estas oscilações como parte do processo;
2. Cria uma rede de suporte: Além da família, identifica amigos, colegas ou grupos online que compreendam o que estás a passar;
3. Considera apoio profissional: Um coach de carreira ou psicoterapeuta pode oferecer ferramentas específicas para navegar os desafios emocionais da transição;
4. Estabelece uma prática de autocuidado: Exercício físico regular, meditação, tempo na natureza e sono adequado são essenciais para manter a resiliência mental;
5. Mantém um diário de progresso: Regista os pequenos avanços e aprendizagens. Nos dias difíceis, reler este diário pode oferecer a perspetiva necessária.

Lembra-te que a coragem não é a ausência de medo, mas a capacidade de avançar apesar dele. Cuidar da tua saúde mental não é um luxo, mas uma necessidade durante uma transição significativa de vida.

5 Passos práticos para mudar de vida aos 40 anos

Chegaste até aqui e sentes que é hora de fazer uma mudança? Parabéns!

Aqui ficam cinco passos concretos para começares:

1. Licença Sabática: aprende como negociar 

Se tens um emprego estável, uma licença sabática pode ser o primeiro passo ideal para explorar novas possibilidades sem cortar completamente com a tua segurança financeira.

Como negociar:

• Prepara um plano claro sobre o que pretendes fazer durante a licença
• Destaca os benefícios que a empresa pode ter quando voltares (novas competências, perspetivas, energia renovada)
• Propõe um período específico (3, 6 ou 12 meses)
• Sugere soluções para a tua substituição temporária

Várias empresas já têm políticas para licenças sabáticas. Mesmo que a tua não tenha, vale a pena propor – especialmente se tens um bom histórico na organização.

2. Autoconhecimento: investe primeiro em ti!

Antes de mudar para uma nova carreira, dedica tempo a descobrir o que realmente queres.

• Faz testes vocacionais e de personalidade (como MBTI, CliftonStrengths, Ikigai)
• Trabalha com um coach de carreira ou faz terapia para explorar bloqueios e motivações
• Mantém um diário de reflexão sobre o que te energiza e o que te esgota
• Analisa a tua história de vida para identificar padrões de interesse que possam ter sido negligenciados

O autoconhecimento é a base de qualquer mudança bem-sucedida. Aos 40, tens uma vantagem: décadas de experiência para analisar e perceber o que funciona (e o que não funciona) para ti.

3. Experimentação Profissional: explora novas áreas sem riscos

Antes de fazer uma mudança drástica, experimenta novas áreas em pequena escala:

• Faz voluntariado em áreas que te interessam
• Inscreve-te em cursos curtos ou workshops de fim de semana
• Participa em projetos paralelos enquanto manténs o teu trabalho atual
• Conversa com pessoas que trabalham na área que te interessa

Estas experiências dão-te não só uma visão mais realista do que seria trabalhar na nova área, como também começam a construir o teu network e currículo no novo campo.

4. Mentoria e Networking: constrói a tua rede de apoio profissional

Não subestimes o poder de aprender com quem já percorreu o caminho que pretendes seguir:

• Identifica pessoas que fizeram transições semelhantes à que ambicionas
• Pede uma conversa informal para conhecer a sua história e obter conselhos
• Participa em grupos de networking específicos da área que te interessa
• Considera programas formais de mentoria

Um bom mentor não só te orienta como também te motiva nos momentos difíceis, algo especialmente valioso durante uma transição de carreira.

5. Planeamento Financeiro: garante segurança durante a transição

Uma das vantagens de mudar de vida aos 40 é que provavelmente tens mais recursos financeiros do que terias aos 20. Ainda assim, é fundamental ter um plano:

• Cria um fundo de emergência que cubra pelo menos 6-12 meses de despesas
• Identifica quais competências atuais podem gerar rendimento durante a transição
• Considera começar a nova carreira em part-time enquanto manténs alguma fonte de rendimento
• Revê o teu orçamento para identificar onde podes reduzir despesas temporariamente

Uma transição bem planeada do ponto de vista financeiro reduz significativamente o stress e aumenta as tuas hipóteses de sucesso.

Conclusão: é preciso passar do medo à ação

Mudar de vida aos 40 não só é possível como pode ser o momento ideal para o fazer. Tens a energia, a experiência, a maturidade e, provavelmente, mais recursos do que tinhas aos 20 anos.

O mercado de trabalho está a evoluir para valorizar cada vez mais a diversidade etária, a experiência e as competências transferíveis – tudo vantagens para quem está na casa dos 40 ou mais.

A transição pode levar tempo – geralmente 1 a 2 anos para ser completa – e exigirá que reconheças e comuniques eficazmente as tuas competências transferíveis. Poderás enfrentar alguns desafios, como o idadismo em certos setores, o impacto nas dinâmicas familiares e as inevitáveis montanhas-russas emocionais.

Mas, como vimos nos exemplos partilhados, a coragem de mudar pode levar a uma vida mais alinhada, satisfatória e autêntica. Com o planeamento adequado, suporte emocional e uma rede de apoio, os desafios tornam-se apenas degraus na tua escada para uma vida mais realizada.

A questão não é “estou muito velho para mudar?”, mas sim:

“Estou disposto a dar os passos necessários para criar a vida que realmente quero?”.

Conta-me nos comentários: que passos vais dar hoje para a mudança que desejas?