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São anos e anos a dizer que não gosto daquilo que faço.

O trabalho administrativo cansa-me, aborrece-me, faz-me sentir desvalorizada e inútil.

Recordo-me de quando disse à minha ex-Diretora (que vou tratar por M. para ser mais fácil) que me sentia desvalorizada e que não fazia parte da equipa.

O espanto dela foi extremamente genuíno: “Não percebo como é que podes dizer isso. O teu trabalho é super importante!”.

A M. gostava tanto de mim que pediu a todos os meus colegas para dizerem o que mais valorizavam em mim e fez um postal recheado de mensagens inspiradoras… Eu também gostava (e gosto!) muito dela. E sim, eu sei, que sorte trabalhar com uma pessoa que tem tamanha humanidade.

Mas não invalida o facto de me sentir pequena, sem valor e inútil para o resto do mundo.

Poder-se-ia dizer que o problema reside em ter um baixo nível de valor próprio.

Também é verdade, há que dizê-lo. Até porque recentemente assisti a esta Career Conversation da Lourdes Monteiro onde percebi claramente que isto é uma questão a trabalhar.

Mas não é só.

O trabalho administrativo implica rotina, burocracia, logística, disponibilidade a toda a hora, tempos mortos e uma série de tarefas que eu não gosto de fazer, como atender telefonemas (detesto falar ao telefone!).

Na altura em que falei com a M. estava novamente a entrar em crise. Desesperada por estar farta do meu trabalho, sem qualquer perspetiva de poder crescer na empresa, mudar para outra função, nem tão pouco ser aumentada.

Pensei para comigo que não podia cometer os mesmos erros do passado. Se queria mudar tinha de saber muito bem aquilo que queria, senão ia voltar a cair no mesmo tipo de trabalho.

Então, olhei para trás, para as outras experiências profissionais e percebi que apenas tinha estado 3 anos no meu 1º trabalho “a sério”. E coloquei um objetivo a mim mesma:

Vais arranjar forma de ficar aqui os 3 anos e aprender como lidar com a frustração do dia a dia, enquanto procuras alternativas.

E assim foi.

Fácil? Bem, na realidade não. Mas o facto de ter aquele objetivo ajudou-me muito e a verdade é que consegui ficar na empresa 4 anos 😊

As estratégias que arranjei para combater a frustração passaram muito por encontrar ânimo em atividades fora da empresa.

  • Comecei a frequentar workshops e palestras sobre desenvolvimento pessoal que me ajudaram a ganhar ferramentas para o dia-a-dia;
  • Inscrevi-me no ginásio, em aulas de aeróbica e step, e lembro-me de haver um período em que passava o dia inteiro a ansiar por aqueles 45m de dança e saltos e pura adrenalina que me faziam esquecer tudo o resto;
  • Comecei a trabalhar em regime de freelancer com uma terapeuta de medicina chinesa, o trabalho não era muito, mas sentia-me muito útil por ajudá-la no dia-a-dia;
  • O meu namorado fez-me uma surpresa e adotou uma gatinha com 3 meses (e nem imaginas a alegria que ela trouxe aos meus dias!!);
  • Inscrevi-me em workshops completamente random para ver se despertavam algum interesse completamente desconhecido – biocosmética, encadernação japonesa, journaling, dinâmicas de grupo …

Se calhar pensavas que ia sugerir algo como yoga, meditação, prática da gratidão…

São tudo ferramentas fantásticas e reconheço a importância de cada uma, mas se dissesse que alguma delas fez tamanha diferença na minha frustração profissional estaria a mentir.

No fundo o que procurei foi encontrar prazer e satisfação fora da empresa. Já sabia que aquelas 9 horas por dia estavam reservadas ao “que tinha de ser”, portanto restava-me encontrar algum alento no resto do tempo.

Confesso que, para aguentar cerca de 2 anos a fazer mais do mesmo, foi super importante estar a trabalhar num ambiente onde me dava muito bem com as pessoas, em que a cultura era informal e onde me sentia, no fundo, no fundo, muito acarinhada pelos meus colegas.

Se estivesse em outro tipo de contexto, acredito mesmo que não teria aguentado tanto tempo e possivelmente tinha-me despedido e arranjado outro emprego semelhante.

Felizmente, assim não foi.

Mas afinal, o que é a frustração?

Confesso que até começar a escrever este artigo nunca tinha pesquisado sobre frustração, mas resolvi fazê-lo porque quero entregar-te ferramentas, além da minha experiência pessoal, para conseguires superar este estado.

A frustração é um sentimento que resulta da impossibilidade de satisfazer uma necessidade ou desejo, estando associado a desânimo e a uma sensação de impotência.

Na base deste sentimento encontra-se a expetativa, mostrando-nos que, mesmo quando fazemos tudo o que está ao nosso alcance, os resultados podem não acontecer como esperamos, simplesmente porque não é possível controlarmos tudo à nossa volta.

A frustração faz parte da vida de todos os indivíduos e tem inclusive um efeito positivo no desenvolvimento do ser humano, uma vez que, ao ter a oportunidade de experimentar algo e fracassar, é possível aprender com os erros e fazer melhor numa próxima tentativa.

No entanto, é mais frequente associarmos a frustração a um efeito negativo, manifestando-se quer a nível físico (falta de energia, cansaço, perda de apetite, insónia), quer a nível psicológico (desânimo, deceção, tristeza e até raiva).

Quando os níveis de frustração são elevados ao ponto de interferirem na nossa vida diária, impedindo-nos de fazer tarefas rotineiras, este é um sinal forte de que é preciso parar para refletir e perceber o que se está a passar, podendo ser necessário recorrer à ajuda de um profissional para lidar com este sentimento e com a situação que o desencadeou.

Recordo-me que, nas fases de maior frustração profissional, a falta de energia era tanta que por vezes não me conseguia levantar da cama. Tinha mesmo de ligar para o trabalho a pedir para chegar mais tarde ou ficar em casa porque não me sentia bem. E de todas as vezes que pedi ajuda à médica de família, ela disse-me que a minha falta de energia e cansaço tinham origem psicológica.

8 estratégias para lidar com a frustração

Dei-te a minha visão pessoal, aprofundei o tema da frustração, mas não ficaria um artigo completo se não te entregasse algumas estratégias para poderes lidar efetivamente com a frustração no trabalho 😉

1. Faz um zoom out à situação

Procura afastar-te daquilo que te está a consumir e olhar com uma visão de helicóptero.

O que consegues ver ao estar fora da situação?

Tenta identificar claramente o que te causa frustração: são as tarefas que fazes, ou uma em particular? É o ambiente de trabalho? Um chefe menos compreensivo? A falta de reconhecimento?

Consegues perceber qual é a emoção predominante? Tristeza, raiva, ansiedade?

Identifica o(s) problema(s) e pensa em possíveis soluções para o(s) superar(es).

2. Permite-te fazer uma descarga emocional

A ideia é poderes desabafar sobre tudo aquilo que sentes, quer seja com um amigo, um colega de trabalho mais próximo, um familiar, ou até recorrer a um psicólogo. Alguém que escute verdadeiramente aquilo que sentes.

E se falar não é a tua onda, escreve. Pega num caderno e permite-te fazer uma verdadeira diarreia mental, deixando no papel tudo aquilo que sentes.

Chora se for preciso. Grita se te ajudar a deitar tudo cá fora.

Expressar os teus sentimentos e emoções pode ser um enorme alívio, em vez de prenderes tudo dentro de ti.

3. Encontra distrações no trabalho

Procura tomar café com colegas de outra equipa e criar novas amizades.

Vai dar uma volta na hora de almoço para apanhar ar fresco, aproveita e lê uma revista, um livro, ou ouve a tua música preferida, aquela que te dá um boost de energia.

Investiga se poderias criar, ou participar, em algum projeto da empresa, para além daquilo que fazes no dia a dia.

4. Respira

Naqueles momentos de raiva intensa, em que te apetece mandar tudo pela janela e desistir de uma vez por todas, pára tudo e vai à casa de banho.

Para libertares essas emoções negativas, o melhor que tens a fazer para recuperar a calma é respirar conscientemente.

Fecha os olhos, coloca uma mão na barriga, inspira profundamente, como se tivesses um balão na barriga, durante 5 segundos.

Depois, expira, esvaziando o balão, novamente durante 5 segundos. Repete até te sentires mais calmo.

Ao regulares a tua respiração o teu cérebro recebe mais oxigénio e ajuda-te a acalmar.

5. Pratica exercício físico

Seja uma atividade mais intensa ou uma caminhada, qualquer atividade em que coloques o corpo em movimento vai permitir a libertação de neurotransmissores que estão muito ligados ao bem-estar, à redução da ansiedade e do stress.

Escolhe o que te faz sentir melhor e pratica nem que seja 30 minutos por dia para ganhares mais energia.

6. Encontra um hobby

Procura novas atividades que te possam dar prazer e ajudar a desligar completamente do trabalho: jardinagem, fotografia, cozinhar receitas diferentes, juntares-te a um clube de leitura, …

Tira da gaveta aquele projeto antigo e dá-lhe vida!

Vai trazer-te outro ânimo e entusiasmo ao dia a dia e, quem sabe, a possibilidade de uma mudança profissional.

7. Adota um animal

Está comprovado que a interação com animais aumenta os níveis de serotonina e dopamina, responsáveis por acalmar e relaxar, e diminui os níveis de cortisol (responsável pelo stress) e a pressão arterial.

8. Mima-te, pela tua saúde

Sim, leste bem.

Tratares de ti deve ser a tua principal prioridade.

Tira um tempo para te mimares, seja uma ida ao cabeleireiro, uma massagem, um passeio à beira-mar ou simplesmente… não fazer nada!

Recosta-te no sofá, pega num copo de vinho, um pacote de snacks e coloca aquele filme que já viste 20 vezes ou aquela playlist que te reconforta a alma. Claro que não é para fazer todos os dias, mas naqueles mesmo mais difíceis… permite-te saborear aquilo que te der mais prazer.

Se nunca tinhas pensado a sério sobre o tema da frustração, este pode ser o momento certo.

Segue as dicas acima, procura perceber concretamente aquilo que te incomoda e traça um plano de ação para encontrar ânimo e entusiasmo de forma a mudar aquilo que precisar de ser mudado.

Seguimos juntos!

Sugestão: Lê também o artigo “Como transformar a insatisfação

Créditos da imagem: Foto de Pixabay no Pexels

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