Tirar da gaveta os nossos projetos, ou até mesmo os nossos sonhos, pode implicar uma jornada de crescimento pessoal:
- fazer coisas diferentes que nos levam a sair da nossa zona de conforto;
- pensar de forma diferente sobre aquilo em que acreditamos, desafiando as nossas crenças mais enraizadas;
- e até mesmo transformar a nossa mentalidade, para estar mais flexível e recetiva à mudança.
É por isso relevante saber quem somos, quais são os nossos valores, os nossos talentos, as nossas forças e as nossas fraquezas, os nossos limites e as nossas necessidades.
No fundo, aquilo que constitui a nossa essência, que nos move e que nos faz levantar de manhã. Que nos dá um sentido para a vida. Que nos faz viver com propósito.
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Recentemente escrevi um artigo para a Associação Solo Adventures, onde sou voluntária, e fiz alguma pesquisa sobre o propósito.
Um conceito que assenta precisamente na importância de nos conhecermos para vivermos uma vida com sentido.
O propósito, tal como a felicidade, não pode ser encontrado fora de nós.
É algo intrínseco, que reside no nosso ser, à espera de ser (re)descoberto.
Não é estático, pelo contrário, pode alterar ao longo dos anos e consoante a situação, para corresponder ao nosso crescimento e à nossa transformação pessoal.
Viver de acordo com o nosso propósito de vida traz vários benefícios para a nossa saúde e para o nosso bem-estar, tal como revela a investigação científica que tem sido realizada neste campo.
Por outro lado, a ausência de propósito na nossa vida leva a um vazio existencial que nos leva a procurar, no exterior, formas instantâneas e imediatas de prazer e satisfação.
E então, perguntas tu, como posso descobrir o meu propósito?
Cultivando o autoconhecimento. Dedicando tempo a explorar os teus interesses, os teus talentos, as tuas necessidades mais intrínsecas, os teus pontos fortes e fracos.
Tudo isto para que exista um alinhamento ao utilizarmos os nossos talentos naturais, aquilo em que somos bons e nos sentimos bem a fazer, de forma a servir os outros e ser relevantes para o mundo.
Se não soubermos qual é o nosso propósito, dificilmente conseguimos ter uma vida preenchida e com alinhamento interno, limitando-nos a fazer uma “navegação à vista”.
Se não soubermos qual é o nosso propósito, qualquer trabalho ficará aquém das nossas necessidades de realização.
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Já uma vez escrevi sobre a importância de nos autoconhecermos antes de pensarmos em mudar de carreira.
E, recentemente, ao ouvir este episódio das Career Conversations, recordei-me novamente do quão relevante este tema é na gestão de carreira.
O trabalho pode ser uma excelente forma de manifestar, no exterior, o nosso propósito.
Mas tal nem sempre é possível.
De facto, se existir um grande desalinhamento entre aquilo que fazemos e quem somos, mais tarde ou mais cedo surgirá um conflito interno que nos vai obrigar a parar para pensar.
Pensar sobre quem somos, porque fazemos aquilo que fazemos e até porque é que muitas vezes pensamos que somos aquilo que fazemos.
E aqui parece-me também relevante assinalar a importância de estarmos atentos às máscaras ou às personas que usamos, quer seja no trabalho, no círculo de amizades ou em outro contexto qualquer.
São máscaras que têm algumas vantagens, pois permitem-nos desempenhar diferentes papéis, adaptando-nos a cada um dos contextos, mas por vezes, colocamos tantas camadas diferentes em cima da nossa identidade que começa a ser cada vez mais difícil chegarmos ao nosso verdadeiro “eu”.
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Recordo-me quando ouvi pela primeira vez a pergunta:
Foi como se, de repente, se tivesse aberto todo um universo por explorar.
Eu, que sempre me identifiquei como “sou administrativa”, e ainda por acima, associado a sentimentos de pequenez e desvalorização, fiquei completamente sem resposta.
E desde então, ando à procura… de saber quem sou, em toda a minha plenitude, em todas as dimensões da vida.
Foi por isso que, a certa altura no ano passado, cansei-me de precisar de ter um título no meu perfil do LinkedIn, que não refletia em nada tudo aquilo que sou e coloquei, simplesmente:
Foi por isso que comecei a prestar atenção a outras formas de encarar a profissão e o trabalho que saem do tradicional imposto pela sociedade.
No fundo, procurar abordagens que tragam conforto à minha inquietude e insatisfação e que me ajudem a sentir que faço parte do todo, ainda que “à minha maneira”.
Assumir características de uma personalidade multipotencial, ou que sou uma especialista generalizada, e até mais recentemente a vontade de perseguir uma carreira portefólio ou uma carreira por projetos, têm sido estratégias que me ajudam a encontrar um lugar para ser tal como sou, sem necessidade de rótulos, títulos ou outras afirmações pré-concebidas.
Cabe-nos a nós sermos responsáveis por conduzir a nossa vida e por encontrar respostas para encontrar o nosso caminho.
E tal só é possível com profundo conhecimento de nós próprios para que possamos (re)descobrir aquilo que dá sentido à vida.
Seguimos juntos!
Nota: Este artigo foi originalmente publicado na newsletter de Setembro/2021, mas sendo tão rico em conteúdo, achei que merecia destaque no blogue.
Créditos da imagem: Foto de Miguel Á. Padriñán no Pexels