Paixão, Propósito, Felicidade e Significado são temas que têm ganho cada vez mais relevância.
Temas que, embora sejam abordados há milhares de anos por filósofos como Sócrates e Aristóteles, surjem revigorados enquanto pressão da sociedade atual para que cada indivíduo siga a sua paixão, encontre o seu propósito e assim possa viver feliz.
Será assim tão fácil?
Por vezes, aquilo que parece difícil é o mais simples de fazer acontecer.
O problema é que estamos tão formatados para certos hábitos de pensamento e para certas realidades pré-concebidas que nos esquecemos de equacionar outras possibilidades.
Possibilidades transformadoras e paradigmas diferentes que desafiam as nossas crenças. Que desafiam tudo aquilo que conhecemos.
E quando entramos neste campo do desconhecido, o medo instala-se.
A incerteza, o desafio de fazer diferente daquilo que é “suposto”, a dúvida se vai correr bem.
Tudo é colocado à prova.
Então apresenta-se o desafio de sairmos da nossa zona de conforto, deixarmos de lado os pensamentos e hábitos antigos, as inseguranças do passado, as crenças que nos limitam a avançar.
Quando tal acontece, e se estivermos disponíveis para a mudança e para a transformação interior, apresenta-se todo um conjunto de novas possibilidades.
Possibilidades que nos permitem construir uma nova história, ressignificando experiências antigas e encontrando novas formas de pensar e de encarar a realidade.
Realidade que, por vezes, pode ser enganadora, pois é vista com os nossos filtros. Os filtros das nossas vivências. Aquilo que parece, não é.
Então, no processo de mudança também é importante questionar:
Colocando as lentes da curiosidade, e utilizando uma mente aberta, conseguimos então percecionar todo um leque de escolhas que antes era desconhecido.
Porque é que isto é importante para seguirmos a nossa paixão, encontrarmos o nosso propósito e sermos felizes?
Porque todas estas respostas estão dentro de nós.
O difícil será virar a atenção para o nosso interior, ao invés de manter a busca no exterior de nós.
O simples torna-se complexo porque, na realidade, as pessoas andam perdidas, à procura de si mesmas.
Importa então esmiuçar como podemos encontrar as respostas através de um mergulho profundo na nossa essência e na nossa história, por forma a trazer à luz os nossos tesouros camuflados durante anos por máscaras, medos e vergonha.
A Paixão
De acordo com Noeline Kirabo, empreendedora social natural do Uganda, paixão é uma coleção de experiências da nossa vida que nos dão o mais puro sentimento de realização.
Dedicarmos tempo a conhecer estas experiências que nos trouxeram sentimentos de alegria e entusiamo, é fundamental para percebermos o que nos apaixona.
Estudar a história da nossa vida, aprofundar o que sentimos nos momentos altos e nos momentos baixos, permite clarificar aquilo que queremos manter e reavivar, e aquilo que já não nos faz sentido.
Para seguir a nossa paixão é preciso coragem para desafiar os paradigmas instalados na sociedade. É preciso coragem para defender os nossos sonhos, que podem parecer absurdos aos olhos dos que nos rodeiam. É preciso coragem para aceitar todas as mudanças que vão acontecer, fruto da nossa transformação interior.
O Propósito
A filosofia de vida japonesa Ikigai fala-nos da importância de encontrar alegria na nossa vida através do nosso propósito, ou seja, encontrar aquilo que nos faz sair da cama de manhã e que nos mantém ativos.
Todos têm um Ikigai, uma razão para viver.
Descobri-lo requer uma busca interior profunda e ter consciência que o propósito pode mudar ao longo da vida.
Esta filosofia tem sido estudada por vários investigadores junto de algumas populações japonesas centenárias e parece estar diretamente relacionada com uma maior longevidade.
O facto destas populações se manterem ativas a fazer aquilo que mais gostam, não só lhes permite ganhar mais anos de vida, como o conseguem de forma saudável.
Surge então outro conceito tão relevante como encontrar o nosso propósito: estar em alinhamento com o mesmo.
O Alinhamento
Para Jay Shetty, coach de propósito e antigo Monge, mais importante do que encontrar a nossa paixão e o nosso propósito é conseguir o alinhamento com estes aspetos.
Este alinhamento de que Jay fala, exige, uma vez mais, olhar para dentro, entrar em conexão com a nossa natureza, a nossa essência e perceber o que podemos fazer para honrá-la.
E quando soubermos, verdadeiramente, aquilo que temos de fazer para estar em sintonia com a nossa natureza, então a magia acontece.
Quando nos ligamos intimamente a tudo o que nos rodeia, as pessoas certas vêm até nós, as respostas surgem, assim como as oportunidades.
Tudo orquestrado pelo Universo e pelo alinhamento corpo-mente-espírito.
Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, designa este fenómeno como “sincronicidade“, a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado.
A Felicidade
Experienciamos então a felicidade. Alcançamos um estado de espírito em que sentimos bem-estar, contentamento e satisfação.
O conceito de felicidade é difícil de definir, pois refere-se a algo abstrato e subjetivo, difícil de quantificar.
No entanto, a ciência da felicidade existe e chama-se: psicologia positiva.
Este ramo da psicologia, criado pelo psicólogo Martin Seligman, procura estudar os pensamentos, sentimentos e comportamentos humanos, enfatizando os aspetos positivos da personalidade.
Seligman desenvolveu o modelo PERMA, segundo o qual existem 5 elementos que contribuem para a felicidade:
Positive Emotions | Emoções Positivas
Engagement | Envolvimento
Relationships | Relacionamentos
Meaning | Propósito
Accomplishment | Realização
Importa referir que a felicidade é algo efémero, não tem um carácter permanente.
Está cientificamente provado que, quando se atinge algo que queríamos muito e que achávamos que nos ia trazer felicidade, ao fim de algum tempo, voltamos ao estado anterior e retomamos a busca.
A nossa perceção de como nos vamos sentir quando alcançarmos determinado objetivo – ter um trabalho de sonho, muito dinheiro, uma relação para a vida, … – é muitas vezes enviesada pela interpretação incorreta que fazemos da realidade.
Confiar no processo
A felicidade é algo que se sente no momento presente, não é a nossa perceção sobre como nos vamos sentir quando alcançarmos determinado objetivo no futuro.
Daí que surjam tantas atividades que nos impelem para a atenção plena, para o foco no momento presente, de forma a podermos apreciar e saborear aquilo que acontece no “agora”, evitando a ansiedade antecipatória e as (pre)ocupações com o futuro.
Há sempre uma descoberta ou uma surpresa na viagem que não só enriquecem o final, como muitas vezes o definem. Pelo que nunca devemos subestimar o processo. A experiência do fazer é tudo. O final deveria ser sempre o final dessa experiência e não a experiência em si.
Do livro “Não faço ideia”, Vasco Durão
A felicidade é um sentimento que resulta da combinação entre 50% dos nossos genes, 40% das nossas ações e pensamentos e apenas 10% é influenciado pelas circunstâncias da vida.
São estes 40% que podemos controlar e influenciar.
Como?
- Estimulando o pensamento positivo;
- Adotando um mindset de crescimento, por oposição a um mindset fixo;
- Estando com atenção plena no momento presente;
- Praticando a gratidão e a bondade;
- Cultivando os relacionamentos;
- Cuidando do nosso bem-estar físico e mental, através da prática de exercício, meditação e bons hábitos de sono.
O Significado da Vida
Emily Esfahani Smith, escritora de temas relacionados com a experiência humana, defende que, mais importante do que encontrar a felicidade é encontrar um significado para a vida, um conceito mais profundo e mais gratificante do que o sentimento efémero da felicidade.
A autora refere inclusive o psicólogo Martin Seligman, segundo o qual o significado da vida advém de um sentimento de pertença e de colocar ao serviço de algo maior, aplicando o melhor que temos dentro de nós.
Após vários estudos, Emily Smith sugere que é possível alcançar mais sentido na vida se trabalharmos 4 pilares específicos:
Pertença: criar laços com a família e com os amigos a partir do coração, cultivar relações onde somos valorizados, e onde valorizamos, o valor intrínseco;
Propósito: utilizar os nossos pontos fortes ao serviço de outros, contribuindo e sentindo que somos necessários;
Transcendência: cultivar momentos que nos dão prazer e que nos permitem entrar num estado de bem-estar em que perdemos a noção do tempo;
Contar histórias: a história que conto a mim mesmo, e aos outros sobre a minha vida permite trazer clareza sobre os eventos mais marcantes e permite ressignificar essa história à luz das aprendizagens que daí retiro.
Paixão, Propósito, Felicidade e Significado
4 conceitos que se relacionam na busca de uma vida onde se sente bem-estar, satisfação, entusiasmo e energia.
4 conceitos que podem ser encontrados dentro de cada um de nós, através de um trabalho de procura e reflexão interior.
Se já tens as respostas para algum deles, partilha nos comentários, vou gostar de saber como vives estes aspetos na tua vida diária 🙂
Seguimos juntos!
Créditos da imagem: Johannes Plenio no Pexels